Motivos

Compartilhar o que descobri e vivenciei pelo mundo. Contar as novidades que podem ser úteis para alguém, como dicas de viagens adquiridas por experiência pessoal. Dizer de viviências e transformações da alma. Às vezes filosofar um pouco.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Caminho de Santiago.

Texto escrito em 2006:


Percorrer o Caminho de Santiago de Compostela não fazia parte de meus planos. Pretendia ir para a Espanha fazer uma imersão no idioma local. Pesquisando sobre o país, encontrei sites sobre o caminho – e foi assim que decidi. O caminho surgiu na minha vida e me atraiu. Sem objetivos religiosos.
Ao pesquisar sobre esse estranho e místico trajeto, percebi uma oportunidade de fazer uma pausa na vida. Estava numa fase em que minha alma gritava: “PAREM O MUNDO! QUERO DESCER!”
Pesquisei as cidades a serem percorridas, o que levar, as dificuldades... fiz uma preparação física já com a mochila e o tênis. Fiquei condicionada a escolher tudo que fosse leve. Desde a mochila até os sapatos e o saco de dormir – escolhidos com muita calma. Nada de brincos, batons ou cremes: só um protetor solar. E ainda assim, minha mochila pesava 8 kg. Descobri que para viver precisamos de muito pouco.
O caminho
Iniciei em Roncesvalles, bem perto da França. É o trecho mais tradicional. O ideal é reservar uns 40 dias (780 km), mas eu só tinha 30, então peguei um ônibus entre Burgos e León (230 km). É um caminho de pessoas comuns, parece uma Torre de Babel. Gente de vários países e idiomas diferentes. Foi um exercício de encontros e despedidas. Encontrei pessoas de 20 a 85 anos caminhando ora sob sol forte, ora sob chuva, frio, calor, cidades medievais, pueblos (pequenos povoados)...
Nos dias de chuva e lugares desertos, a viagem é ao nosso interior. E que viagem! Nos transforma e nos faz descobrir nossa força e coragem.



Dormir num albergue é algo fora do comum. Me lembrou a “noite de pijama” na escola. Ambientes coletivos, com 8, 10 ou até 100 pessoas. Há sempre alguém que ronca... solta pum! Mas esses ambientes coletivos proporcionam uma comunhão entre as pessoas.
Tínhamos que deixar o albergue até as 8h da manhã, andar até as próximas cidades, almoçar (ou não) e escolher um lugar para tomar banho, lavar a roupa do dia e dormir. O jantar é essencial. Se temos companhia, jantamos juntos. E é uma festa porque os vinhos espanhóis são maravilhosos e baratos. Afinal, ninguém é de ferro.
A chegada
Chegar em Santiago de Compostela não é o mais importante. Pois lá se pode ir de avião, carro, ônibus... o importante é o dia-a-dia da caminhada. O esforço permite que a chegada em Santiago seja algo muito emocionante.
Existe um ritual para fechar a peregrinação em Finisterre – a uns 80km de Santiago e é o ponto mais ao oeste da Europa, onde os povos antigos pensavam ser o fim da terra. Chega-se ao oceano Atlântico onde existe um local nas pedras para se queimar as roupas ou objetos pessoais usados na peregrinação. É um gesto simbólico: nos livramos de coisas ou problemas que não se queremos mais. É uma sensação muito forte.
No último dia, ao retornar de Finisterre, sentei na praça em frente à catedral de SAntiago de Compostela. Fiquei ali parada sem perceber o tempo, observando o nada. Tive então a verdadeira noção de que até o tempo é relativo. Aliás não existe tempo. É o passado e o futuro fundindo-se no presente. É o eterno...


Nenhum comentário:

Postar um comentário